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sexta-feira, 25 de julho de 2014

Ariano - O adeus.

Por Michelle Ferreira

"Como todos nós, eu não fui consultado se queria nascer. 
Mas se me fosse feita essa consulta, 
Eu diria que queria viver umas cem vezes... 
Sou um apaixonado pela vida!"
-Ariano Suassuna-


Saí de casa com o coração meio apertado. Fui lá munida apenas de um celular, um bloco de notas e uma caneta nas mãos.

Não vou falar aqui o que todos falam a respeito de uma despedida. Porque não era só uma despedida. Era a expressão de agradecimento de um povo que tinha orgulho de estar ali, na cerimônia de adeus ao homem que virou mártir... Ariano Suassuna.

Era festa! Era gratidão! Era  energia positiva que preenchia o Palácio das Princesas, aqui em Recife-PE, onde estava sendo velado o mestre das letras. Ariano tinha graça pela dádiva de viver os dias. E era exatamente isso o que se podia sentir ali. Vida! Foi isso o que eu vi ao presenciar aquele momento. Vi agradecimento no rosto de quem passava horas na fila para vê-lo. Alguns choravam, outros aplaudiam, recitavam mensagens de paz, de fraternidade, admiração... Da mais simples à mais formal, as saudações eram aceitas sem restrições. Eram instantes de respeito.
Ariano era mesmo grande. Dava para ver. Falo por algo além dos renomados que vieram dar suas "aparições". Falo de um outro lado, de coisas maiores...


Falo da representação das homenagens prestadas, das vozes que cantavam juntas de instantes em instantes a música do Capiba, do aplauso dos fãs, do sorriso da senhorinha que trouxe rosas vermelhas, do silêncio cordial da guarda que fazia a segurança, do olhar atento da imprensa presente, do calor da gente recifense que ressonava com uma alegria independente o  grito de guerra do Sport Clube do Recife, time de futebol favorito dele. Dos que estavam lá fora, com cartazes customizados, fantasias regionais, do maracatu vestido com carinho, do "cabra" da peste que carregava tão disposto o peso do seu estandarte, da gente alegre que eu encontrei ali trazendo tantos mimos, tudo o que representasse de alguma maneira aquele que partia...
                                 

Falo das pessoas mais calorosas, que abraçavam-se sem se conhecer, que se cumprimentavam sem cerimônias de elegância... Da gente simples que sorria expressões de vida! Vida boa! Vida sem medo, sabe?! A vida que Ariano tanto falava. Os mínimos detalhes que só quem estava lá para sentir. Calor humano como o que ele nos passava. Enfim... Ariano partiu. Mas deixou aqui sua sabedoria. Um exemplo de positividade. Um legado que se eterniza por gerações. "Madeira de lei que cupim não rói."


Madeira que cupim não rói(Capiba)

Madeira do rosarinho
Vem a cidade sua fama mostrar
E traz com seu pessoal
Seu estandarte tão original

Não vem pra fazer barulho
Vem só dizer... e com satisfação
Queiram ou não queiram os juízes
O nosso bloco é de fato campeão

E se aqui estamos, cantando esta canção
Viemos defender a nossa tradição
E dizer bem alto que a injustiça dói
Nós somos madeira de lei que cupim não rói